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Mar 10

 

Levantando o olhar, viu que Liang trazia nova oferta. Uma peanha de mogno polido, com um recorte interior onde o mosqueado da madeira se diluía. Liang passou-a para as mãos do tio-avô, retirando-se novamente. Quando regressou, os seus dedos brancos e esguios fundiam-se com a beleza e a graça de uma cabeça em porcelana.

Tchang recebeu-a e colocou-a cuidadosamente na peanha, entregando-lha depois com um silêncio solene. Era uma cabeça quase tão grande como a de uma pequena criança, retirada provavelmente de uma antiga estátua de grandes dimensões. Não fez qualquer pergunta quando a recebeu. Apenas sorriu. E então viu o sorriso no rosto de Liang, que se assemelhava ao que tinha entre mãos. Um sorriso ténue, mais do olhar que dos lábios.

Nada perguntou depois sobre a origem da cabeça nem sobre o seu significado. E nada lhe disseram. Mas lembrou-se de Matsu e do templo de A-Ma. Matsu, a deusa dos mares, dos pescadores e dos mareantes.

No sudoeste da península, rodeado de árvores, o pequeno templo surpreendera-o na primeira visita. No interior, a escuridão das  pedras consagradas ressaltava inesperadamente e as suas inscrições ofereciam-se ao olhar. O vermelho-vivo, as cores gritantes, os aromas, tornavam o ambiente feérico e davam-lhe uma sensação de vertigem e enjôo. Tivera que sair, rapidamente, para acalmar o olhar. E a calma sobreviera quando dera as costas à colina da Barra e se virara para o mar. Então, com os olhos embalados no movimento das ondas que quase se fundiam com o céu, o enjôo foi-se desvanecendo. 

Talvez agora aquele rosto e aquelas memórias fossem um sinal. Talvez estivesse na hora de conhecer as ilhas e de ir até Hong-Kong... 

publicado por blogdaruanove às 23:53

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